review CD pollen

By: Eduardo Chagas

Jazz e Arredores

2007

Language: portuguese

Na Creative Sources Recordings já se conhecia o diálogo vocal de Ute Wassermann com o som granular do trompete de Birgit Ulher. Foi em Kunststoff, disco que as artistas alemãs gravaram para a editora de Ernesto Rodrigues, em 2004. Trompete que se mistura com a voz e confunde com electrónica na procura de um léxico fora dos limites convencionais. E porque não retomar as linhas refinamento e experimentação vocal, agora com electrónica de raiz? Beneficiando da proximidade e do imediatismo que proporciona a actual tecnologia de gravação, a mezzo-soprano Ute Wassermann, figura simultaneamente da new music e da improvisação, expõe o imenso espectro da sua arte ao nível dos registos, do timbre e da articulação, no uso inteligente do espaço disponível, que combina com a chuva de partículas electrónicas que circulam à sua volta, poalha que se agita e depõe em torno das imensas possibilidades da expressão com aparelho vocal, usado enquanto instrumento musical, como faz o britânico Phil Minton, por exemplo. Em Pollen, o trabalho de Wassermann vive de sons minúsculos, cavos e superficiais, guturais e labiais, imitação de pássaros e insectos, apitos, assobios, gorjeios, roncos e rugidos, toda uma imensa variedade de sinais sonoros que estabelecem um entendimento “natural” com a participação do galês Richard Barrett, membro do FURT, duo britânico de electrónica, onde desenvolve um trabalho muito diferente, mais dentro do convencionalismo da electrónica digital comum. Aqui, Richard Barrett utiliza as sofisticadas ferramentas electrónicas de que dispõe, para, com apurada sensibilidade e em tempo real, deixar-se contagiar pela actividade da artista vocal (em Pollen, Wassermann não canta uma única nota) e libertar encadeados de sons humanóides. Estes questionam a inventividade e respondem às provocações de Wassermann, criando uma obra sonora densa, ainda que frágil e transparente, rica em sugestões visuais. Eduardo Chagas (Jazz e Arredores)